Ela olhou em meus olhos e, com aquele leve sorriso que tinha nos lábios, mesmo enquanto falava, disse: “Estou morrendo; por favor, cuide dos meus filhos.”
Nenhum de nós acreditou nela. Não queríamos acreditar. Era impossível. Tal coisa nunca havia acontecido entre nós antes. Estávamos num encontro de esposas de pastores. O fim de semana de retiro espiritual tinha terminado horas antes. A presença de Deus havia sido marcante. Isso não poderia estar acontecendo.
No fim da manhã do domingo, estávamos voltando para casa no ônibus que uma igreja adventista nos havia emprestado. Todas vimos o carro que vinha um pouco fora de sua faixa. Não precisamos nos preocupar, pensamos. Entretanto, no momento em que eu comentava com a pessoa ao meu lado: “Por que será que aquele carro está andando em ziguezague?” – de repente, ele chegou perto do ônibus, perdeu completamente o controle e foi direto em nossa direção. Nosso motorista ainda tentou desviar para evitar o choque, mas era tarde demais. O que era aparentemente impossível, aconteceu.
Quando a poeira baixou, tudo havia mudado. Havia cortes, contusões e ossos quebrados para todos os lados. E ali estava Dele, deitada, olhando para mim. Cerca de quinze minutos antes, ela me lembrou de colocar o cinto de segurança. Eu estava sentada na frente, perto do motorista. Fiz o que ela sugeriu e, por sua gentil recomendação, em vez de quase ter morrido por causa do lugar em que estava sentada, escapei sem nenhum ferimento grave. Fora um casal que teve apenas alguns arranhões, o único problema que tive foi uma marca no meu pescoço, provocada pelo cinto, que evitou que eu voasse através do vidro.
Segurei a mão de Dele; ela disse que não sentia nada. “Não há vida em mim”, ela disse. Pedimos que parasse de falar daquele jeito. “Seja otimista,” dissemos em coro. “Você vai viver, é o que a Bíblia diz.” Ela acreditou em nós e começou a orar. Ela pediu que Deus lhe poupasse a vida. “Senhor, meus filhos são tão jovens,” ela orou. Porém, na segunda-feira pela manhã, ela estava morta.
Misericórdias de Deus
Minha mente rapidamente fez uma retrospectiva. Lembrei-me do testemunho da sexta-feira à noite, o primeiro momento de oração daquele retiro, coordenado por ela e por outra senhora. Posso vê-la ainda lá na frente. Ela foi inspirada a nos falar sobre perdão. Ela fez uma confissão e usou-a para nos admoestar. Admitiu que tinha um tio a quem nunca conseguiu perdoar pelas coisas terríveis que fizera ao pai dela. Ela até jurou que não iria a seu funeral. O Senhor, porém, tocou seu coração e, enquanto estava ali em frente de nós, ela o perdoou. Fomos tocadas pelo seu testemunho. Duas ou três mulheres, uma após outra, levantaram-se e também fizeram sua confissão.
“Depois do que você disse, nós também perdoaremos; vamos esquecer o que aconteceu”, disseram as mulheres.
Não compreendi totalmente o que Deus havia feito naquela noite de sexta-feira até segunda-feira à noite, quando tentava confortar o esposo de Dele, contando-lhe o que acontecera no culto de testemunhos.
“Louvado seja o Senhor,” ele disse, e confessou que esse problema sempre fora um peso em seu coração. Era a principal causa de seu remorso por não estar ao lado de Dele momentos antes de sua morte. Ele sabia do problema com o tio. Sim, ele realmente havia sido um homem mau, admitiu o marido dela, mas ele havia implorado o perdão de Dele por vários anos. Ela disse que não conseguia perdoá-lo. Seis meses antes fora a última vez em que ela e o esposo conversaram sobre o assunto, e ela ainda estava zangada. Talvez, se eu estivesse ao lado de sua cama, pensou ele, poderia ter tentado, mais uma vez, persuadi-la a perdoá-lo. Dele era uma mulher maravilhosa. Muitas pessoas, inclusive a família, foram beneficiadas com sua generosidade. Será que essa questão isolada ficaria entre ela e Deus?
Não, disse Deus. Naquela sexta-feira à noite, Ele a preparou para o que iria acontecer. Sem nenhuma coerção – nem quando estava em seu leito de morte – ela confessou que havia entregado a situação a Deus e que havia perdoado o tio. Nosso maravilhoso Deus deu a ela essa oportunidade de perdoar. Então, disse: “Venha repousar um pouco.”
O que Deus está dizendo a você neste momento? Ouça e obedeça. Ele pode estar preparando você para a eternidade.
Promessas para Reivindicar
“Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao Senhor, porque todos Me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor. Pois perdoarei as suas iniquidades e dos seus pecados jamais Me lembrarei” (Jr 31:34).
“Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará” (Mt 6:14).
“Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados” (Lc 6:37).
“Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós” (Cl 3:12 e 13).
“Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1:9).
Abidemi Oyinloye é professora do Departamento de Educação e Filosofia da Universidade Babcock, instituição adventista, na Nigéria.
Fonte: Revista AdventisWorld
http://portuguese.adventistworld.org/index.php?option=com_content&view=article&id=459