A dor terá fim algum dia? Faz alguns meses que nossa TV repete as cenas de atordoante choque, angustiadas emoções e pungente dor do ato terrorista de 11 de setembro em Nova Iorque, Washington, DC e Pensilvânia, e seus resultados nos Estados Unidos, Afeganistão e no mundo todo. Misturamos nossas lágrimas com as daqueles que, sem timidez e às vezes incontrolavelmente, choraram perante câmeras de TV por causa de sua tremenda perda.
Na quinta-feira à noite, após aquela terça-feira de terror, eu estava visitando meu filho Kirk em seu apartamento. Vimos pela televisão pessoas que se aglomeravam exibindo fotos de seus amados que ainda se achavam sob os escombros das malfadadas torres do World Trade Center. Aos soluços, homens e mulheres, jovens e velhos, se apresentavam frente às câmeras implorando por qualquer informação sobre seus cônjuges, noivos, irmãos, irmãs, pais e filhos. Não entendo como o repórter podia permanecer ali segurando calmamente o microfone diante daqueles rostos chorosos. A TV mostrou até o presidente dos EUA embargado pela emoção, em face à imensidão da tão horrenda tragédia.
Irá a dor desaparecer algum dia?
Meses depois aprendemos que, numa questão de segundos diabolicamente coordenados em ações simultâneas, a vida sobre este planeta pode ser irrevogavelmente mudada ou permanentemente alterada. Eventos e condições que antes imaginávamos impossíveis, ou, na melhor das hipóteses, improváveis e impraticáveis, podem agora suceder em rumo irreversível. E nada nem ninguém conseguem detê-los. Nessa jornada através da dor nacional e além dela, quão imensa foi a perda e quão amargas as lições!
Para o sobrevivente cristão, um demorado e silencioso exame das dramáticas fotos daquela bola de fogo alaranjada, produzida pela explosão de um jato projetado contra as janelas envidraçadas da parte posterior da segunda torre, levanta dez eloqüentes questões que dizem respeito: (1) ao amor divino; (2) ao ódio humano; (3) ao caráter de Deus; (4) à salvação do mundo; (5) ao estado da Igreja; (6) à vingança e retribuição; (7) ao perdão e esquecimento; (8) ao fim do mundo; (9) à segunda vinda de Cristo; e (10) à incapacidade humana de resolver seus problemas mais profundos e exasperantes. Dez constrangedoras questões que após todos esses meses ainda produzem perplexidade, mesmo para o inquiridor cristão.
Onde estava Deus?
Talvez a mais urgente de todas as questões ainda permaneça: Onde estava Deus em 11 de setembro? Na busca de uma resposta, considere as palavras de um antigo profeta aqui precedidas de um incidente ocorrido na velha China. Muito tempo atrás, um grupo de pobres colonos chineses chegou a uma ampla planície, estrategicamente situada entre os rochosos contrafortes de uma cadeia de montanhas e o litoral salgado do Mar da China, que parecia perfeitamente adequada ao cultivo de arrozais. Ficou decidido que os colonos construiriam sua vila sobre um promontório plano e rochoso, de onde poderiam contemplar não apenas as plantações abaixo, mas as azuladas águas do mar além.
O povoado foi erigido nessa elevação e o arroz plantado abaixo. Logo a vida lhes estava acenando com novas promessas e grandes esperanças.
Numa tarde de verão, quando a maioria dos lavradores havia descido do monte para os arrozais da planície, uma das mulheres que ficara no povoado desviou, por acaso, os olhos de seu trabalho caseiro e contemplou o mar à distância. Seus olhos vaguearam pela extensão líquida até o distante horizonte oceânico. De repente, com apreensão, ela reconheceu um ameaçador vagalhão, uma gigantesca onda que seus vizinhos japoneses chamavam de tsunami. Uma distante alteração tectônica no leito oceânico havia criado esse maciço ajuntamento de águas, formando uma imensa coluna líquida que avançava quase que silenciosamente rumo à praia.
Por um instante a mulher ficou paralisada, dando-se conta de que quase todos os moradores do povoado, alheios ao fenômeno, estavam se dedicando ao plantio do cereal ao longo da praia, sem imaginar que seu mundo e vidas estavam sob iminente ameaça de desastre e morte. A tsunami iria destruir todos quantos trabalhavam nos campos sob o sol meridiano, a menos que ela os pudesse advertir.
Aos gritos, a aflita senhora notificou o problema aos poucos aldeões que haviam permanecido na elevação. Em pânico começaram a berrar e acenar, procurando chamar a atenção de seus familiares, crianças e amigos lá embaixo. Mas era um esforço inútil; eles estavam muito distantes. Com a tsunami celeremente vindo de encontro à praia, não haveria tempo para descer pelo montanhoso e pedregoso caminho e alcançar o vale. Precisavam chamar a atenção deles imediatamente ou todos no vale estariam perdidos!
Logo ficou claro que tinham de provocar algo catastrófico para despertar as famílias ameaçadas lá no vale. A mulher e seus companheiros sabiam o que precisavam fazer. Seria um terrível custo. Porém, se os ameaçados trabalhadores da colônia devessem ser salvos, o preço tinha de ser pago.
Apanhando brasas de seus fogões, a mulher e seus vizinhos na aldeia apressaram- se a pôr fogo nas casinhas de sapé. Uma a uma as casas no promontório irromperam em chamas avermelhadas, lançando ao ar espessas colunas de fumaça negra. No vale, as pessoas tiveram a atenção chamada para o inesperado incêndio lá no alto. Iniciou-se então uma grande corrida para salvarem suas moradias em chamas.
Quando cansados e ofegantes chegaram ao alto, encontraram a mulher e seus vizinhos apontando freneticamente na direção do mar. Chocados, os colonos observaram a rugidora parede líquida destruir a lavoura na qual haviam estado trabalhando momentos antes.
Foi necessário algo desastroso para adverti-los de uma destruição muito maior que sobre eles pairava.
Agora, considere as palavras do velho profeta Isaías: “Também através dos Teus juízos, Senhor, Te esperamos; no Teu nome e na Tua memória está o desejo da nossa alma. Com minha alma suspiro de noite por Ti, e com o meu espírito dentro em mim, eu Te procuro diligentemente; porque, quando os Teus juízos reinam na terra, os moradores do mundo aprendem justiça.” (Isaías 26:8 e 9.)
“Quando os Teus juízos reinam na terra, os moradores do mundo aprendem justiça.” Isso pode ser entendido como significando que quando os juízos divinos estão na Terra, os habitantes do mundo têm sua atenção chamada para a segurança e a salvação. Porque há ocasiões desesperadoras em que se requer algo catastrófico para servir de advertência de uma impendente e maior destruição.
Uma advertência
“O que você quer dizer com tudo isso?”, talvez o leitor pergunte. Você acredita que aqueles seqüestradores estavam numa espécie de missão divina; que o Deus Todo-Poderoso os enviou para executar juízo contra os Estados Unidos? Absolutamente não!
Somente uma mente deturpada buscaria atribuir a causa dessa tragédia ao amorável Deus e Pai da humanidade. Jesus estava absolutamente certo quando asseverou: “Um inimigo fez isso.” (Mateus 13:28.) Não um inimigo de além-mar, porém um inimigo maligno e sinistro vindo desde as remotas eras do tempo. Um arcanjo decaído conhecido pelos nomes de Lúcifer, Satanás, a antiga serpente chamada o diabo. Após todos esses meses vamos dar crédito a quem ele é devido. Nas palavras do poderoso livro do Apocalipse: “Ai da terra e do mar, pois o diabo desceu até vós, cheio de grande cólera, sabendo que pouco tempo lhe resta.” (Apocalipse 12:12.)
Há muito que o diabo sabe que seu tempo é curto, que é um breve traço de loucura sobre a tela do radar da eternidade. E desde o início, no intocado e imperturbado Jardim do Éden, esse arcanjo maligno e corrompido está em guerra não somente contra o Céu, mas também contra a Terra. Você e eu, as cidades de Nova Iorque e Washington D.C., e o mundo inteiro, somos suas vítimas! Tanto os políticos quanto os militares e a imprensa estão certos: Estamos em guerra!
Uma guerra cósmica
Para o cristão, porém, fica claro que não se trata de uma guerra contra os árabes, o Islã, o Afeganistão, os estrangeiros ou mesmo os terroristas. Nós, habitantes da Terra, vemo-nos envolvidos numa guerra sangrenta, em meio ao fogo cruzado de um combate cósmico cujas espantosas dimensões são verdadeiramente universais: “Houve peleja no céu. Miguel e os seus anjos pelejaram contra o dragão. Também pelejaram o dragão e seus anjos; todavia, não prevaleceram; nem mais se achou no céu o lugar deles. E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a Terra e, com ele, os seus anjos.” (Apocalipse 12:7-9.).
Em 11 de setembro de 2001, o diabo e seus anjos novamente declararam guerra contra todos nós! Estamos numa guerra, num conflito cósmico pela aliança e lealdade de todos os moradores da Terra.
Então, onde estava Deus quando precisamos dEle em 11 de setembro? No mesmo lugar onde esteve naquela fatídica sexta-feira, envolto pelas trevas do Calvário, ao lado de Seu solitário e moribundo Filho. Ele estava envolvido por trevas sufocantes, assim como os milhares que pereceram em 11 de setembro. A diferença é que esses não morreram sozinhos. Pois a seu lado o mesmo Pai de coração partido no Calvário permanecia envolto pela poeira e explosões dos diabólicos ataques. O Calvário nos garante que Deus sempre está ao lado das vítimas.
Tão comprometido está Deus com nossa humana liberdade de escolha, que permite que as opções dos homens, nesse caso, a livre escolha de um pequeno bando de perversos, se desenvolva às vezes (como aconteceu) até o cumprimento de seus destrutivos e trágicos desígnios. Logicamente, Deus poderia fazer de todo ser humano um robô inexoravelmente programado para Lhe obedecer as ordens. Mas os autômatos não podem devotar-Lhe amor. E o coração do Amor Infinito tem sede de amor em retorno.
Assim, Ele nos deve conceder não só o direito de dizer-Lhe sim, mas também o de dizer-Lhe não.
Conseqüentemente, em 11 de setembro, uma gangue de terroristas disse não a Ele. Meses depois os Estados Unidos ainda sofrem e lamentam, assim como Deus o Pai lamentou ao lado da cruz de Seu moribundo Filho, a quem Ele próprio fez perecer para assegurar o direito de todo coração humano dizer sim a seu Salvador e não ao diabólico terrorista Lúcifer.
Não lancemos a culpa pela trágica terça-feira de setembro aos pés do Deus da Sexta-Feira Santa. Pois esses pés ainda hoje trazem as marcas dos cravos; os mesmos pés que caminharam para fora da sepultura ao terceiro dia, dando desse modo a Deus o direito de ter a última palavra. E Ele a terá! Pelos habitantes sofredores da Terra, Deus ainda terá a última palavra, mais cedo talvez do que imaginávamos antes de 11 de setembro. O retorno do Vitorioso do Calvário, a segunda vinda de Jesus Cristo, pode estar mais próximo agora do que jamais nos demos conta antes!
Retornemos por um momento mais às palavras de Isaías. A versão bíblica New Living Translation conclui Isaías 26:9 deste modo: “Pois somente quando os Teus juízos estão na Terra o povo se volverá da iniqüidade para fazer o que é certo”. Porque vêm tempos desesperantes quando se faz necessário algo catastrófico para chamar nossa atenção e advertir- nos da destruição maior que se avizinha, assim como aconteceu com os aldeões chineses naquele vale.
Poderia ocorrer conosco — e não estou pensando como norte-americano agora, mas a respeito de você e de mim — que também nos divertimos e estudamos e trabalhamos inteiramente alheios ao desastre iminente que está para sobrevir à Terra? Será que no distante horizonte há um impendente cataclismo se aproximando, o qual haverá de destruir toda a Terra; uma catástrofe que se avizinha e que hoje só pode ser vista por Alguém que, de Suas divinas alturas, observa e conhece todas as coisas? Poderia ocorrer então que, acima do ruído e estrondo dessa terrível calamidade, já ouvimos a voz dAquele que clama e pleiteia desesperadamente conosco, buscando chamar nossa atenção e despertar-nos de nosso estupor e alheamento, procurando advertir-nos que o fim se aproxima? Alguém que essencialmente teve de queimar Sua própria casa a fim de atrair-nos a atenção?
Seria o caso de que Aquele que não deseja que ninguém pereça (ver II Pedro 3:9), também não esteja disposto a deixar essa loucura prosseguir até que todos hajam perecido? Poderia dar-se que as casas que queimam ao lado da montanha global não sejam senão um desesperado clamor dAquele que nos está advertindo apaixonadamente, para fugirmos da destruição vindoura?
O chamado de Deus
Deus nos está chamando. Por todo o tempo a metáfora operativa tem sido de que nós clamamos a Ele em desespero. Todavia, será que desta vez, em desespero, Ele nos está a chamar? Porque talvez — poderia ser? — a despercebida onda catastrófica esteja mais perto agora do que jamais imaginamos antes!
“Com minha alma suspiro de noite por Ti, e com o meu espírito dentro em mim, eu Te procuro diligentemente; porque quando os Teus juízos reinam na Terra, os moradores do mundo aprendem a justiça.” (Isaías 26:9.).
Não admira que Deus clame com as mesmas palavras que usa mais adiante no livro do mesmo profeta: “Olhai para Mim, e sede salvos, vós, todos os termos da Terra; porque Eu Sou Deus, e não há outro.” (Isaías 45:22.) Acima da cacofonia de sua frenética vida e atividades acadêmicas, está você também ouvindo o clamor que Deus lhe dirige? “Olhai para Mim, e sede salvos!” Está?
Um de nossos estudantes da Universidade Andrews, onde atuo como pastor, está em Jerusalém num programa de estudos com um ano de duração. No dia seguinte à tragédia de 11 de setembro, ele passou um e-mail a seus pais, na minha paróquia, os quais o partilharam posteriormente comigo. Em seu email, Isaac Oliver descrevia o sombrio clima em Jerusalém: “Hoje na classe cantamos ‘Que venha a paz sobre nós’.
O professor disse que quando problemas como esses ocorrem por aqui, eles dizem: ‘Que venha o Messias’ — porque quando Ele vier haverá paz.” O professor está certo. Mas Isaac conclui seu e-mail lembrando de uma turnê pelo Pentágono que ele, sua mãe e alguns amigos fizeram no verão passado, antes do ataque de 11 de setembro. Ele lembrou como sua mãe estava preocupada com a segurança daquele imenso complexo militar, mesmo sendo o Pentágono. Quando ela perguntou ao guia quão seguro o Pentágono realmente era, o oficial virou-se e com um sorriso disse: “Minha senhora, saiba que está no lugar mais seguro do mundo!” Enfim, àquelas alturas, quem poderia saber?
O buraco aberto em 11 de setembro num dos lados do Pentágono é uma sombria lembrança de que, de fato, o lugar mais seguro do mundo não é, em absoluto, um local. É uma Pessoa. “Olhai para Mim, e sede salvos, todos os termos da Terra!” Aquele que proferiu essas palavras em breve estará voltando. O que significa que se jamais houve um tempo certo para olhar para Ele… certamente esse tempo é agora. Não concorda?
E então, você o fará?
Dwight K. Nelson (D.Min. pela Andrews University) é o pastor titular da Igreja Pioneer Memorial, no campus da Andrews University, Berrien Springs, Michigan, EUA.