Nunca é por acaso que alguém perde interesse no cônjuge. Sempre existe um motivo para essa perda, e talvez a melhor coisa que você possa fazer seja ajudar a quem perdeu o interesse a descobrir o verdadeiro motivo. Geralmente, quando alguém perde o interesse no cônjuge, pensa que isso possa estar acontecendo em razão de algum defeito ou deficiência do outro, como problemas com a aparência física, problemas de relacionamento ou outro qualquer. E quanto mais pensa nessas coisas, mais o amor se vai…

Mas talvez seja bom saber que, em muitos casos, o tal desinteresse possa estar acontecendo por falta de compreensão da dinâmica do sentimento na relação conjugal. Dentro do casamento o sentimento nunca vai ser igual àquele que você teve nos primeiros dias de namoro, e isso não significa que existe algo de errado com a relação. É lógico que o primeiro beijo sempre terá sido mais emocionante do que a rotina da vida conjugal, que traz consigo a limpeza da casa, pias cheias de louça e crianças que não sabem dormir sem chorar.

Por isso quem passa a vida atrás das emoções do primeiro beijo, vai ter muitas dificuldades para solidificar uma relação. Na verdade, seu foco está mais centralizado nas próprias emoções, que são despertadas pela relação, do que em desenvolver uma relação duradoura com outra pessoa.

Outro ingrediente que para algumas pessoas causa aversão à vida de casados é a rotina. Muitos, talvez por terem sido educados pelo “ficar” (contato físico casual, sem compromisso), acostumaram o cérebro a uma vida de novidades a qualquer preço, e, quando se casam, descobrem que vão ter que olhar para o mesmo rosto pelo resto da vida. Na verdade, essas pessoas se esquecem de que é só a rotina que pode trazer a estabilidade e a segurança da vida. Nosso caráter é feito do conjunto de hábitos que adotamos, e os hábitos necessitam das rotinas para serem formados.

É lógico que conhecer uma nova pessoa pode produzir sensações indescritíveis. Mas isso sempre significa grande dispêndio de energia física e emocional, impossível de ser sustentado pelo resto da vida. É por isso, que com o passar dos anos, os sentimentos migram de um arroubo de emoções para sensações mais amenas e estáveis, o que é perfeitamente normal – e até desejável. Não é que o amor terminou. Ele apenas começou a ficar mais maduro e, por isso, mais sábio.

É nesse ponto que muitos se confundem, imaginando que o amor acabou. Sim, aquele amor imaturo da adolescência tinha mesmo que acabar para dar lugar a um amor mais seguro, mais adulto, mais estável, durável. Mas quando isso acontece, muitos pensam em buscar de novo aquele sentimento da adolescência, e partem em busca de novas experiências, passando por cima dos sentimentos do cônjuge e, em alguns casos, até do futuro dos filhos.

Mas os anos passam e com eles se vai o vigor físico, aparecem as dores, as doenças, e chega a época em que todo mundo precisa do cuidado e da presença de uma família. É nessa hora que a vida cobra o seu preço daqueles que, perseguindo emoções, deixaram de investir em relações. Seu engano foi buscar sempre emoções profundas em relações superficiais. Agora, quando o sexo já não tem mais tanto valor, quando o que vale mesmo são as relações, descobrem com espanto que ainda não conseguiram ancorar o coração em um porto seguro, onde podem encontrar afeto desinteressado, uma sopa quentinha à noite, e olhares compreensivos.

Mas existe ainda outro aspecto. A Bíblia nos mostra que, como seres falíveis (chama de pecadores), não temos a habilidade de amar de modo perfeito. Normalmente, pensamos mais nas nossas necessidades e direitos; mais nos nossos prazeres, que nas necessidades, prazeres, sentimentos e direitos dos outros. Dentro do conceito da Bíblia, ou seja, pelo conceito de Deus, amar seria justamente o contrário: pensar nos outros, querer o bem-estar do outro, desejar o sucesso do outro, e isso pela vida toda, se o assunto é a relação de um casal.

Na primeira carta de João 3:14, o autor faz uma afirmação muito séria. Ele diz que o sinal do amadurecimento espiritual, ou seja, de um relacionamento correto com Deus, é justamente o amor porque “aquele que não ama, permanece na morte”. Deus é vida, e vida em abundancia. Quem anda com Ele tem vida, vida eterna, e recebe a capacidade para amar, dentro desse novo conceito de amor. Para falar a verdade, a Bíblia afirma sem rodeios que a pessoa que diz ou pensa que não ama mais, está na verdade com um problema espiritual. Essa pessoa precisa não de “outra”, de  novas experiências, de motel, de uma viagem, de acabar com a rotina com posições sexuais extravagantes, mas… de Deus.

Talvez sem perceber, deixou-se dominar por um estilo de vida contrário ao amor, que é o egoísmo – uma doentia preocupação com as próprias necessidades, e um desprezo cada vez maior pelas necessidades e sentimentos do(s) outro(s). João, o referido autor, ainda diz no capítulo 4:8 que “aquele que não ama, não conhece a Deus, porque Deus é amor”. E como conhecer a Deus? Quase do mesmo jeito que se conhece uma pessoa, isto é, passando tempo com Ele.

Então, a perda de interesse pelo cônjuge pode estar revelando que antes disso aconteceu a perda de interesse por Deus, a Fonte do amor, ou se está passando pouco tempo com Ele, ou nunca se teve esse interesse. Se você conhece alguém que está sofrendo diante da possibilidade de causar sofrimento ao cônjuge ou aos filhos, e deseja experimentar algo diferente, aqui vão algumas sugestões: separe um tempo regularmente, todos os dias, no começo do dia, para falar com Deus (fale do seu jeito); logo em seguida, leia a Bíblia (toda ela, mas não de uma vez, evidentemente, apenas uma pequena porção cada dia), e procure praticar tudo o que estiver escrito e compreender ser correto; procure uma igreja que siga completamente a Bíblia em todos os aspectos e passe a frequentá-la regularmente; por fim, quando você estiver falando com Deus, não esqueça de pedir habilitação para amar seu cônjuge. Se Deus existe mesmo, alguma coisa pode acontecer! Se você duvida, quanto custa experimentar?

Marcos Bomfim

Fonte: http://www.outraleitura.com.br/