Lidar com a morte. Olhar a pessoa morta que minutos antes estava ao seu lado, ou havia estado com você recentemente, é digno de nenhuma palavra e de todas as palavras de dor, raiva, frustração, tristeza. A morte. Uma tragédia. Impotência humana, mesmo no meio da mais alta tecnologia médica. Não dá para fugir dela. Dá para evitá-la até certo ponto, cuidando da saúde, indo a locais seguros (existe isso?), não excedendo a velocidade do veículo, mas de qualquer modo a morte é real. Ela vem. Vem a todos nós.
Ela produz lágrimas na alma e no rosto. Dói no coração emocional e mesmo no peito. Ficamos pasmados, passados, aflitos, anestesiados, em crise, revoltados, extasiados. A reação depende de cada um. É preciso, então, respeitar como cada um irá lidar com a dor da perda. Uns precisam falar imediatamente, então vamos ouvir, dar um colo, um abraço, o ouvido. Outros decidem ficar quietos, em silêncio, mais isolados talvez, meditativos, vamos então respeitar isso. Pode ajudar agir assim com quem está sofrendo uma perda pela morte de um ente querido:
1. Seja um bom ouvinte. As pessoas necessitam falar muito sobre a morte do ente querido. Quanto mais elas falarem, mais processarão a realidade.
2. Não seja julgador dizendo que a pessoa já não mais deveria estar sofrendo pela perda. Os passos que levam para a aceitação da perda muitas vezes é mais lento do que gostaríamos que fosse. E a aceitação pode ainda demorar mesmo que a pessoa retorne ao trabalho. Cada um tem seu ritmo de lidar com este tipo de realidade dolorosa demais.
3. Fale da pessoa que morreu. Não tenha medo de levantar o assunto da morte da pessoa pelo medo da família se sentir pior. Ao invés de dizer: “Quando ocorreu aquilo com fulano…”, diga, “Quando fulano morreu…”. Os parentes já estão se sentindo mal e pensam sobre o falecido a maior parte do tempo. Eles saberão que aquele pessoa era importante para você também e não caiu no esquecimento. E usar as palavras reais ajuda no processo de aceitação da realidade.
4. Procure saber como vai cada membro da família. É comum acharmos que os homens estão bem, diante da morte da pessoa querida, quando eles podem não estar bem. Pergunte, demonstrando sincero interesse.
5. Mantenha contato com a família da pessoa que morreu. Possivelmente os familiares não tomarão esta iniciativa pela queda da energia emocional. Então, você pode telefonar ou fazer uma visita. Ou pode convidá-los para tomarem uma refeição juntos.
6. Evite as frases feitas. Seja honesto com suas próprias emoções. Talvez, ao invés de dizer: “Meus sentimentos!” e só, você pode dizer, se for uma emoção espontânea, “Que droga, não é?” Se não sabe o que dizer para a pessoa em luto, basta ficar por ali por perto, talvez dê um abraço em silêncio, coloque a mão no ombro da pessoa e dê um leve aperto, pronto. Você também pode mandar um cartão. Falar pouco neste momento é melhor do que falar demais.
7. Veja se a pessoa enlutada necessita algo de imediato e ajude. Pode ser a necessidade de preparar uma refeição, comprar algo, atender o telefone, cuidar de crianças, fornecer uma informação, etc.
8. Tente entender o processo de luto psicológico. Cada pessoa vive de uma forma, da sua forma, e isso é normal. Veja como pode ser:
Alguns irão passar por estágios no processo de luto emocional. E podem ser: (1)negação – é a defesa da dor, a fuga da realidade, o amortecedor da angústia. Quando a pessoa vê que é real mesmo a perda e já a pode encarar, ela pode ir para outro estágio: a (2)barganha – aí ela pode fazer promessas de que se a vítima recuperar ela fará isso ou aquilo, dependendo da religião pessoal. Vendo que não adianta, ela pode entrar na (3)raiva, e se revoltar contra os médicos, hospital, alguém que ela acha que deveria ter feito algo mais, contra Deus, contra si mesmo, etc. Depois pode vir a (4)depressão, que é quando a pessoa fica com pouca energia, bem triste, calada, mais isolada, chora muito ou não. E finalmente pode chegar a (5)aceitação, estágio este em que vem a serenidade, a resignação, e a pessoa consegue voltar a raciocinar com mais clareza e decidir o que fazer com a perda dolorosa em sua vida, e com sua vida dali em diante.
A morte é uma droga, é maligna, feia, intrusa. É a maior corrupção da vida. Os corruptos podem colocar em sua agenda um lembrete: “Qual dia da minha morte?” E também: “As riquezas adquiridas ilicitamente me livrarão da morte?” A morte é inimigo da vida, igual os corruptos que são inimigos do bem estar do povo. Mas ela e eles são uma realidade temporária. A morte é o último inimigo a ser destruído, já vencido. A morte será eliminada para sempre. E os corruptos irreparáveis também. Falta pouco tempo. “O último inimigo a ser destruído é a morte.”, afirma Paulo, em 1 Coríntios 15:26. Até lá precisamos de forças para viver, para encarar as perdas e não desesperar, para lutar pela democracia honesta, para aceitar que também morreremos. Depois, vem a vida para quem aceitou a Vida, e abandonou ou nunca entrou na corrupção, porque Alguém que faz o que diz, que não é corrupto, disse: “Aquele que crê em Mim, ainda que morra, viverá.”
Autor: Dr. Cesar Vasconcellos de Souza
Dr. Cesar Vasconcellos de Souza, médico psiquiatra e psicoterapeuta, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria, membro da American Psychosomatic Society, consultor psiquiatra da revista Vida & Saúde onde mantém coluna mensal, professor de Saúde Mental, visitante, do College of Health Evangelism e “Institute of Medical Ministry” do Wildwood Lifestyle Center and Hospital, Estados Unidos, Diretor Médico do Portal Natural, autor dos livros “Casamento: o que é isso?” e “Consultório Psicológico”.