Você vai postar alguma coisa nas suas redes sociais hoje? Se sim, será sobre qual assunto? Qual será sua real intenção? Comunicar um fato, desabafar ou contar uma alegria que extravasou o coração? O que você postará será de valia para as outras pessoas? Vai ajudá-las em suas lutas e caminhada diária ou gerará inveja e ciúme? Tem alguma chance de o conteúdo despertar ódio, tristeza e sentimento de vingança ou melancolia? Estimulará os sentidos a procurarem o adultério ou a pornografia?

Todas as vezes que temos vontade, vamos lá e postamos.

Muitas vezes não nos perguntamos que tipo de sentimento ou reação isso despertará nas pessoas que interagirão com o conteúdo. As informações que consumimos mudam nosso humor e nosso estado mental. Apesar de parecer clichê, é sempre bom lembrar que os sentidos são a janela da mente, e, com eles, captamos o mundo exterior. Por mais que achemos que o que vemos/lemos não nos afeta, a verdade é que tudo nos influencia de alguma forma. E se não selecionarmos bem, isso pode nos levar a caminhos de tristeza, pecado e adoecimento.

Uso das telas

O uso excessivo das telas tem levado a uma epidemia de transtornos emocionais principalmente entre os mais jovens. É rara a família em que não haja uma pessoa com um diagnóstico psiquiátrico secundário ao uso excessivo do celular e das redes sociais em nossos dias. O uso de antidepressivos foi banalizado de tal forma que medicamentos dessa natureza são vendidos quase na mesma quantidade de suplementos vitamínicos. Além disso, os diagnósticos de depressão, ansiedade e fobia social têm se alastrado. Muitas vezes, o uso excessivo das telas vem pela procura de validação e pertencimento. Mas
o preenchimento do vazio e a felicidade não vão estar lá. As mídias não trazem felicidade; elas trazem, muitas vezes, a sensação de vazio, tristeza, baixa autoestima. Somos escravos do celular. Todos temos um. Talvez crianças no berçário não tenham ainda o seu. E como consequência, paramos de socializar. Estamos perdendo essa habilidade tão importante em nossas vidas ao ficarmos presos em quartos escuros diante das telas. Aliás, as pessoas não só vêm perdendo a habilidade de se relacionar, como
estão ficando com medo de gente. A socialização é tão importante que foi determinada por Deus ao dizer no Jardim do Éden: “Não é bom que o homem esteja só” (Gênesis 2:18). Quando nos isolamos e focamos em nós mesmos, a tendência é de que que o pensamento seja conduzido ao pessimismo,
à autocrítica, à baixa autoestima e à desvalorização. Além disso, com nossa natureza pecaminosa podemos também resvalar à procura de conteúdos que nos levam a caminhos de loucura e perdição.

Estamos ficando mais egoístas e o “seu” e o “nosso” deram lugar ao “eu” e ao “meu’’. Tudo é o meu prazer. Querem que acreditemos que tudo é permitido, tudo é válido se trouxer satisfação pessoal. A pornografia invadiu os lares, e os casamentos se desfazem da noite para o dia. Estamos perdendo a tolerância à frustração e, também, a resiliência em relação às dificuldades da vida. Os jogos ocupam o tempo livre dos jovens, e as redes sociais são a companheira inseparável dessa geração. Como consequência, o pensamento ficou raso, e a procrastinação é a ordem do dia. A agressividade, por consequência, também tem se banalizado. As crianças estão com déficit de atenção e tirando notas mais baixas do que as gerações passadas. Ao ficarmos continuamente nas telas, não sobra tempo
para as coisas tão fundamentais da nossa existência, como dormir, fazer exercício físico, entrar em contato com a natureza e praticar a espiritualidade. E isso leva a um adoecimento sistêmico e desafios inclusive na igreja. Mas nós podemos mudar isso com oração e a ajuda do Nosso Pai. Não precisamos nos tornar escravos das telas.

Devemos substituir as telas por aquilo que nos aproxima de Deus e nos traz felicidade, que é a prática da
espiritualidade, a socialização com a família e os amigos, o exercício físico e a procura de metas pessoais como o trabalho/estudo. A espiritualidade praticada diariamente é central para nossa felicidade. Devemos lembrar sempre que o primeiro relacionamento que devemos cultivar é com o Senhor; em seguida com a família, pois ela é um presente de Deus para nos ajudar a trilhar o caminho neste mundo. A família deve se esforçar para fazer caminhadas em parques e áreas verdes para aumentar a integração e o senso de pertencimento e o bem-estar. Além disso, a prática da atividade física é mandatória para a saúde física e mental. E os pais devem ser os primeiros a dar o exemplo se
exercitando. Gaste mais horas para dormir, orar, socializarse, exercitar-se, contemplar a natureza e ser feliz.

Salete Rios é médica, mãe e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Brasília.
É autora do livro Movidos a Internet, da Casa Publicadora Brasileira.