Segundo a Organização Mundial da Saúde, as doenças mentais são doenças crônicas das crianças e adolescentes. O que isso quer dizer?
O significado é que os sofrimentos mentais que atingem adultos são, na verdade, originados em problemas que vieram do passado, em parte de influência genética e em parte em função de situações difíceis para aquele indivíduo lidar no ambiente no qual ele viveu e passou os primeiros anos da infância e adolescência.
Algo estranho e que a ciência ainda não conseguiu explicar é o por que uma pessoa cresce com razoável saúde mental, enquanto que outra, filho do mesmo pai e mãe, criado no mesmo ambiente, vem a apresentar um transtorno comportamental.
Neurocientistas dizem que a genética é responsável por 35% da influência sobre o surgimento de doenças mentais, enquanto que 65% depende do ambiente (Kendler KS, Arch. Gen. Psych. 2003). Genética não é condenação, e sim propensão. Ou seja, um pai ou mãe com transtorno bipolar, alcoolismo ou outra dependência química, depressão, etc., transmite à prole a possibilidade maior de ter o mesmo transtorno, comparado com pais que não tiveram estes problemas de saúde, mas não transmite a doença em si.
Dr. Ricardo Moreno do Instituto de Psiquiatria da USP, comentou no Congresso de Psiquiatria da Associação Psiquiátrica do Estado do Rio de Janeiro (Agosto 2013), que 80% das mães de bipolares são separadas, e um terço dos bipolares vivem só com o pai. Só esta estatística mostra a presença de complicações no ambiente da criança que mais tarde se torna bipolar.
Freud dizia que ao lidarmos com os sofrimentos mentais dos adultos, estamos lidando, na verdade, com as cicatrizes. Cicatrizes vindas de onde, desde quando? De muitos anos atrás, provavelmente das dificuldades ou conflitos na infância e adolescência, aliadas às influências genéticas.
Por isso, a prevenção primária de transtornos mentais é o melhor caminho, porque tratá-los na vida adulta é difícil, há recaídas, medicamentos produzem efeitos colaterais, alguns são muito caros, a psicoterapia nem sempre está disponível para todos, etc.
Prevenção primária em psiquiatria (evitar o surgimento da doença) envolve os pais criarem seus filhos com uma equilibrada combinação de liberdade e limites, afeto e disciplina, dar responsabilidades que eles precisam cumprir para terem direito ao lazer e diversão, e a responsabilidade, claro, de acordo com a capacidade da criança, não devendo ser nem fácil e nem difícil demais para ela.
As crianças não se tornam mais felizes quando damos a elas tudo o que elas querem. Na vida real não é assim, ou seja, não conseguimos tudo o que queremos. Há limites naturais e legais. Temos que ensinar nossas crianças sobre isto. O segurança do banco não vai abrir uma concessão para você entrar na agência 5 minutos após o fechamento só porque você não aprendeu com seus pais que há limites e regras.
Pai e mãe precisam cuidar de suas crianças, tocando-as, abraçando-as, beijando-as, dizendo palavras de estímulo, elogio não só quando elas fazem algo “correto” como trazer o boletim da escola com boas notas, mas mesmo quando fazem algo razoável que, em si tem valor, mesmo que não tenha sido feito como os pais fazem. Ou seja, procure focar no que a criança consegue fazer ao invés de ficar criticando o que ela não consegue. Não compare uma criança com outra, isto é injusto porque algumas crianças tem lutas interiores que outras não tem metade disso, mesmo sendo da mesma família. Não tenha medo de disciplinar, que em alguns casos, nas crianças, envolve palmadas no bumbum, e nos adolescentes envolve cortar privilégios. No futuro eles agradecerão, mesmo que agora reclamem. Lembre-se pai e mãe: autoridade no lar não se negocia! O que se negocia é como ela será aplicada. Quem manda em casa é o pai e a mãe. Ponto. E os filhos obedecem. Só não pode haver abuso emocional e outros abusos por parte dos pais. Mas disciplina bem aplicada e feita com amor é bem vinda e não é abuso.
Um grama de prevenção vale mais do que um quilo de tratamento. O que acontece com as crianças no lar durante a infância, e o tipo de sensibilidade daquele indivíduo, é o que favorecerá o desenvolvimento de transtornos mentais, ou não, na vida adulta. Assim, se você tem filho pequeno evite a superproteção assim como a negligência afetiva.
Dr.César Vasconcellos